4 de mar. de 2013

Entrevista - "Around Europe" com o skatista Fernando Klewys




O skate nos leva a lugares nunca antes imaginado, por estradas nunca antes percorridas, e sempre com aquele espírito aventureiro que cada um de nós carregamos por dentro, imaginamos muitas aventuras em nossas vidas, porém poucos dão asas a sua imaginação.


Fernando Klewys em Amsterdam
Com estes ingredientes batendo em sua mente, o skatista brasileiro nascido em Goiânia, Fernando Klews, radicado em Portugal a muitos anos, iniciou uma grande aventura em sua vida, largando trabalho fixo, para percorrer a Europa sem dinheiro, de boleia (carona), e para complicar tudo isso, escolheu o inverno europeu para começar sua jornada.

Para acompanhar toda a saga desta história antes que vire um livro, mantenham-se atentos as publicações em sua "Page" do facebook (Click Aqui).

Conheçam um pouco mais de Fernando Klewys como pessoa, skatista e louco rsss.

Como nasceu a ideia de uma aventura percorrendo a Europa com seu skate?
Aconteceu tudo muito rápido, fiz um InterRail no passado mês de Agosto e quando voltei a Lisboa, a ideia fez-se de imediato.

De imediato como?
Ao principio foi um pensamento que se foi moldando com o passar dos dias, mas a ideia de "meter o pé", como dizem os cariocas, já era demasiado forte nessa altura, não sabia ao certo quando ia agarrar no meu skate e me fazer a estrada. Três meses depois já estava eu de mala feita a caminho de Paris. (risos)

Bergisch Gladbach City
Você planeou os pontos por onde iria passar ou foi mesmo na “doidera” ?
Posso dizer que os dois, mas a princípio criei um roteiro para não estar a ir de cima para baixo. Mas claro que as vezes é preciso fugir a regra.

Pode nos dizer por quantos, ou por quais países você já passou até agora?

Até ao momento cinco, cruzei o norte de Espanha, depois França, Bélgica, fui até a província da Holanda do Norte (Amsterdam), antes de seguir para Alemanha, mais precisamente em Bergisch Gladbach a +/- 20km da Colonia, em casa da minha amiga Lisa e de sua querida mãe Betina Ernst, que é onde estou agora.

E a quanto tempo você esta a fazer essa viagem?

No passado dia 5 de Fevereiro fizeram dois meses. Mesmo dia em que pisei o solo Alemão.

Até agora quais foram as dificuldades que você encontrou ?

Bergisch Gladbach City
Ush! Algumas. Afinal é inverno, mas tento ver sempre o lado divertido das coisas. Mas posso mencionar esta:. Antes de sair de Amiens tive a falar pela net com o Andre Costa(Def), e ele sugeriu a ideia de cruzar a Bélgica a pé. Ao principio achei loucura mas não pensei muito até tomar como minha a ideia dele. Mas acontece que fiquei doente em Tourcoing/Franca um dia antes de seguir viagem. Foram dois dias de cama em casa do Pierre, irmão do meu amigo de Amiens, Louis Dupond. No terceiro dia me sentia um pouco melhor e o sol brilhava no céu como já não brilhava algum tempo. Organizei minhas coisas e pernas para que vos tenho! Pouco tempo depois meu espírito emudeceu-se. Se não bastassem as dores, tosse, mal estar e vómitos, parecia que me estavam a cravar facas na cabeça. Depois de ter caminhado desde Mouscron até Zulte na Belgica resolvi apanhar boleia pois me sentia incapaz de continuar a caminhar e também comecei a ter medo de passar a noite na rua naquele estado. Confesso que foi dos dias mais difíceis que alguma vez tive. A noite já se fazia longa quando consegui ter acesso a internet em uma área de serviço antes de Antwerpen ainda na Bélgica. Falei com o Eduardo, um amigo que estava em Amsterdam e lá cheguei por volta das 2hr da manha. Tenho de agradecer a ele e a sua namorada Jenyffer por me terem recebido e cuidado tão bem de mim., se não fossem eles, não sei o que me teria acontecido.

Você está contando com alguma ajuda financeira ou algum apoio para realizar essa viagem ?

Não, Até porque a ideia é viajar com o mínimo de dinheiro possível. Ou até mesmo sem nenhum.

Bergisch Gladbach City

Se você não conta com nenhum apoio, como vem se locomovendo pelos países?

Hitchhiking! Viajo sempre a boleia/carona. Assim não tenho gastos. Mas em Rotterdam me vi obrigado apanhar um comboio/trem para Amsterdam, chovia muito, e na situação que eu estava não pude arriscar tanto. Paguei cerca de 15€ no bilhete o que foi quase que uma facada no abdómen! Tenho pouco dinheiro guardado em caso de emergência, mas é sempre bom não ter que utilizá-lo.

E a alimentação? Suas necessidades fisiológicas e higiêne pessoal? São feitas de que maneira?

Em relação a isso não tenho tido problemas. Estou sempre em casa de amigos ou de pessoas que vou a conhecer pelo caminho que me tem recebido sempre de boa vontade.

Se alguém quiser ajudar, de que forma isso seria possível ? Como entrar em contacto com você?

Hmm... Tenho o telemóvel comigo mas neste caso não teria qualquer tipo de utilização. Sempre antes de sair de um lugar e marchar para outro, entro em contacto com meus amigos a dizer que vou a caminho. A ajuda "física/material" vem sempre daqueles que estão mais por perto, e claro, toda ajuda é bem vinda.

Paris
Ajuda física/material? És religioso?

Tenho minhas duvidas. Mas não julgo os que são. Muito pelo contrário. Agradeço sempre quando dizem "estamos a rezar por ti". O que de certa forma, faz com que eu me sinta bastante confortável.

O que espera conquistar nessa viagem?

Não espero conquistar nada para além de amor, sorrisos e amizades. Acho que a maior conquista de todo ser humano, é a de poder respirar dia após outro.

Sim, mas qual é o objectivo dessa aventura? Porque estas a viajar?

O objectivo é viver o máximo que eu puder e conhecer o que para mim é desconhecido. Ter mais experiências de vida, e poder usá-las enquanto vivo. Quando dizia aos meus amigos e conhecidos que queria fazer uma viagem a boleia pela Europa e que ia começar em pleno inverno, muitos duvidaram e até chegaram a dizer que eu poderia morrer a tentar fazer isto, ora bem, a verdade seja dita. Estamos todos vivos certo? Isso quer dizer que?.. Ninguém precisa responder a isso, pois a pergunta já é casada com a resposta. Eu agora estou a viver um sonho, um desejo de vida. Mas sim quero escrever um livro sobre essa viagem! Talvez seja isso que espero conseguir fazer. Se não conseguir, tudo bem, não me posso queixar.

Você vivia em Lisboa. Tinha cá um trabalho certo?

Sim claro. Exercia a função de auxiliar protésico num laboratório dentário, e era responsável por toda área de estrutura metálica. O meu trabalho era basicamente ajudar a devolver o sorriso as pessoas. Gosto de ver desta maneira. (risos)

Agora estas na Alemanha, para onde pretende ir, ou que outros mais países pretende visitar?

Espanha
Fico em Berlim durante mais ou menos um mês onde vou fazer trabalho voluntário num programa que é o WWOOF (World Wide Opportunities on Organic Farms), antes de seguir para Polónia. Depois vou para Republica Checa, Áustria, Eslovénia e Itália. Mas tudo pode acontecer quando se esta a viajar a boleia. Caso encontre/conheça alguém que esteja a ir para Grécia, faço-me logo a estrada com eles antes do diabo coçar o olho esquerdo.

Grandes planos sim senhor. Mas onde e quando pretende terminar essa viagem?


A Itália é o ultimo pais que pretendo visitar antes de regressar a Lisboa. Mas no caminho de volta a casa tenho que cruzar todo o Sul de França e também Espanha antes de finalmente beijar o chão da cidade dos meus olhos.

Isso quer dizer que voltas a Lisboa também de boleia/carona. Saberia nos dizer quando estarás de volta a Lisboa?

Sim. Volto a Lisboa da mesma maneira que de lá saí. Espero poder comemorar meu aniversário em Novembro com todos os meus amigos.

Você é natural de Goiânia - Go - Brasil. Se Lisboa é a cidade dos teus olhos, Goiânia é?

Goiânia é o amor que há mais de 6 anos não vejo.

Planos de regresso?

Espero poder regressar para o ano, e tentar publicar o meu livro e abraçar com um abraço bem forte toda a minha família. Em especial a mulher da minha vida, que é e sempre foi a minha mãe. Mas pai, não fiques com inveja, também te amo.

Conta-nos sobre a sua família !

Resumindo, os meus pais se separaram quando eu tinha 6 anos de idade, mas tenho uma relação muito saudável com ambos. Tenho dois irmãos mais velhos e duas irmãs por parte de pai frutos de um segundo casamento. Meu pai viveu durante alguns anos em Portugal e foi assim que lá fui parar. Mas vivem agora todos no Brasil.


A língua dos skatista é universal, como tem sido seus encontros com os skaters por onde passa ? Tem encontrado alguma dificuldade ?

Não, o pessoal tem sido sempre 5 estrelas e assim é em todo lado. A "skate family" é algo que dá suporte a todos os skaters de coração. Não importa se és iniciado, amador ou profissional. É como tudo na vida. Quando fazes com vontade, e por amor, não há maneira de dar errado. Mas também vamos ser realistas, há sempre altos e baixos. No skate, esses altos e baixos tem um nome especifico. Lesões.

Cinco rapidinhas 

Comida? 
Tudo o que eu puder comer com maionese. 

Skate Videos? 
Stay Gold, Ride the Sky, Where EU At? DC Europe, Baker 3 e todos da Ementa SB. 

Spot favorito? 
Odivelas skatepark, Praça da Figueira e Ambient Skateshop. 

Musica? 
Mr. Miyagi, OnYourKnees, Valient Thorr, Pearl Jam, Nirvana, Nina Simone, Bon Iver e por ai a fora. 

Skaters Favoritos? 
André "Def", Diogo "spanky", Ruben Gamito, Os irmãos Diogo e Bernardo Osório, Ruben Rodrigues, Narciso Afonso, Thaynan Costa e os meus putos da Ementa SB. 

Gostava de agradecer a alguém? 

Agradeço aqueles que me tem ajudado durante esta viagem, nomeadamente meu amigo Louis Dupond e família, Lisa e Betina Ernst, Eduardo e Jennyfer, e ao meu novo amigo de Nijmegen, Dirk Pons. Também ao tio Jaime e a tia Fernanda que são basicamente minha segunda família em Lisboa, a família Sapunaru, a Sample Skateshop que me tem apoiado no skate já a algum tempo. Aos manos skaters da Praça da Figueira, aos meus putos da Ementa SB, aos pais do Spanky e também a Infonewskate pela entrevista. 

Se você pudesse dar um concelho a alguém, qual seria? 

Não aceitarem aos meus concelhos.


Mais fotos da primeira parte desta aventura em Portugal, França, Holanda e Alemanha.



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