E para que não haja mais duvida quanto a superação deste skater, ele estará este mês de Outubro indo aos EUA, para descer a " MEGA RAMPA " localizada na casa de Bob Burnquist, aguardem novidades em breve !!!
Recentemente foi lançado um vídeo aqui na europa, produzido no " The DC Embassy ", que é a nova pista da DC em Barcelona com 1200 mts, com o skater brasileiro, Ítalo Romano, o qual, anda sentado no skate, e rema com as mãos, isso, por não ter ambas as pernas, amputadas aos 11 anos de idade devido a um acidente de comboio ( Trem ).
![]() | |
Antuérpia 2011, Rodrigo Albuquerque, Ítalo Romano, Thaynan Costa, Paulo Macedo, Felipe Gustavo e Danilo do Rosário |
Localizamos uma entrevista feita pelo skater a alguns anos, e estamos postando aqui, para que todos saibam realmente, o que é skatar por amor, o que significa a palavra " Superação " e ainda, como o skate pode mudar, sua forma de viver.
Agora, conheça um pouco do skater Ítalo Romano, através desta entrevista para a ESPN.
“Me sinto um deficiente com a cadeira de rodas, já com o skate me sinto uma pessoa normal”. Ítalo Romano
Por trás de uma tragédia pessoal surgiu um grande homem com uma força de viver descomunal. Um episódio triste na infância o fez perder suas duas pernas. Mas a vontade de ter um skate, que já vinha de antes, se tornou realidade após o acidente.Ítalo é exemplo de garra, superação e vida. E, mesmo que sua humildade não deixe transparecer, está entre nós para nos dar certas lições dia após dia.
Fazer essa matéria com o Ítalo é nada mais do que uma singela homenagem ao seu skate e à sua pessoa. Não há como vê-lo andando de skate e não ficar boquiaberto, impressionado com suas manobras e sua técnica.
Leia a seguir a entrevista com Italo. Assista e conheça quem é este skatista extraordinário:
ítalo, você me disse que sempre quis um skate, mas sua mãe não tinha dinheiro para comprar um. Quando o skate apareceu pra você?
Logo após meu acidente, estava em casa e comecei a assistir a um programa de skate, o Skate Session, e vi uma matéria com o Og de Souza. Achei interessante na hora e me surpreendi por ele andar sentado. Meu primo havia acabado de ganhar um skate, pedi para dar uma volta e gostei. Meu primeiro skate foi dado pelo skatista Rafael Pingo e logo após conheci o Bruno Kbelo que me levou pela primeira vez na pista da Drop Dead. Já nos primeiros dias que andei na pista o Marcos Bollmann fez umas fotos minhas e colocou em seu blog. Quando eu vi minhas fotos na internet, mostrei para minha família e eles gostaram, foi quando eu pensei que era aquilo que eu queria para mim e estou aqui até hoje.
Seu acidente foi um episódio marcante na sua vida. Você tem algum problema em nos contar como aconteceu?
Não, sem problemas. Na época eu estava com 11 anos de idade e um vizinho meu estava organizando um passeio. Por o restante do pessoal ser maior, e eu o mais novo, meu pai não queria deixar eu ir. Meu vizinho foi em casa e fez de tudo para conseguir a liberação do meu pai. Meu pai ainda disse que quando ele tinha minha idade não fazia esse tipo de coisa, sair de casa sozinho e tão novo. Mas de tanto meu vizinho insistir meu pai cedeu.
Fomos a pé até Piraquara, Região Metropolitana de Curitiba, e para ir mais rápido resolvemos pegar rabeira em um trem. Quando o trem estava vindo fui o primeiro a tentar subir. Pulei tentando me segurar na escada de um vagão e acabei caindo embaixo da roda. O trem me arrastou por alguns metros e esse meu vizinho me viu embaixo do trem e foi correndo atrás de mim. Eu estiquei o braço e ele me puxou, nesse momento meu corpo ficou atravessado no trilho e o trem passou por cima das minhas pernas. A perna direita teve de amputar pois estava muito esmagada e a esquerda cortou na hora. Minha família ficou sabendo do acidente e foi bem punk para todo mundo no começo, meu pai ficou super bravo com o cara que estava responsável pela gente e com o que aconteceu.
Sua família lhe apoiou com o skate desde o início?
Logo que comecei a andar de skate, já disputei alguns campeonatos locais e pedi para minha mãe se podia ir em outros fora de Curitiba. Acho que o primeiro que corri foi em Ponta Grossa, na categoria Mirim, e voltei com medalha e premiação. Minha mãe ficou muito feliz e orgulhosa e falou que se era aquilo que eu queria, ela me daria total apoio.
Acho que nunca te vi usando cadeira de rodas, apenas skate!
Verdade. O skate é o meu meio de locomoção, está 24 horas comigo, não tem como não gostar né?!? Na verdade eu me sinto um deficiente com a cadeira de rodas, já com o skate me sinto uma pessoa normal. Com o skate fica mais fácil, mas ágil para me locomover, subir em um ônibus, já a cadeira é mais complicado, um trambolho na minha opinião. O skate é mais minha cara, só uso cadeira de rodas em ocasiões específicas, um casamento, formatura.
E o seu carro? Dando muito rolê com ele pela cidade?
Pois é, eu estava na casa do Porva em Minas e quando voltei meus amigos estavam comentando sobre um carro que apareceu e minha tia queria me dar.
Fiquei espantado pois nem tinha pensado em ter um carro e quando o vi foi amor à primeira vista. Era uma Caravan adaptada. Juntei dinheiro com a ajuda da minha tia, meus pais e meu antigo patrão e comprei o carro. Saio direto com ele, estou com várias multas de excesso de velocidade. (risos)
E como é a vida de um skatista deficiente pela cidade?
Ah, para as pessoas é diferente. As pessoas são muito curiosas. Elas me vêem andando de skate e perguntam o que aconteceu comigo. Sempre tem alguém que cutuca a outra pessoa e fala, “Olha lá, o cara de skate sem perna.” O problema para mim mesmo são os cachorros. O skate faz muito barulho e eles não gostam e como estou na altura deles eles sempre vêm pra cima, querendo me morder. Hoje mesmo dei um tapa na cara de um que veio pra cima de mim. Mas nunca levei nenhuma mordida.
Além de skate, você ainda faz outras atividades? Que história é essa de seleção brasileira de vôlei?
Eu jogo vôlei, faço academia e vou fazer fisiculturismo também. Vôlei eu já jogava no colégio, meu professor falou que eu jogava bem e perguntou por que eu não jogava vôlei paraolímpico. Eu nem sabia como era isso e ele foi atrás para se informar se havia algum técnico em Curitiba precisando de algum atleta como eu.
Ele achou o técnico Marcelo que foi me ver jogar. No vôlei paraolímpico todo mundo tem as pernas, e pelo fato de eu não te-las fica mais ágil de eu me locomover na quadra, e o skate me ajuda também. Quando o Marcelo me viu, me convidou para jogar no time dele. Eu jogava vôlei com pessoas normais, com a rede alta e quando cheguei no treino com o Marcelo, vi a rede mais baixa e achei da hora. O Marcelo viu que eu jogava bem e fui disputar um campeonato mundial no Irã, em 2008.
Ficamos em oitavo lugar e foi uma experiência extraordinária. Agora vou para São Paulo treinar com a Seleção Brasileira e espero ser convocado para os campeonatos em setembro.
E o fisiculturismo? Você tem que ter uma pegada forte na academia para agüentar o skate né?
Verdade, a academia ajuda muito porque tenho que ter muita força nos braços para subir com o skate nos obstáculos e girar as manobras. Depois que comecei a malhar facilitou muito na execução e evolução das manobras.
A marca Nata, do Ricardo Porva, seu patrocinador, lançou ano passado o vídeo Vamo Andá? e sua parte chamou muita atenção, até foi postada em alguns sites gringos, como os das revistas Skateboard e Slap. Como foi gravar sua parte?
Fiquei filmando com o Porva acho que uns 4 ou 5 anos, viajando direto com ele e com a família Nata. Ele já tinha muita imagem guardada e falou para os skatistas da marca que iria lançar o vídeo e continuei me empenhando para registrar diversas manobras.
Varias pessoas viram e comentaram sobre minha parte, meu rolê e estou muito satisfeito com o resultado e a repercussão. O Porva postou o vídeo no Youtube e tiveram vários comentários daqui do Brasil e de fora, isso tem me incentivado muito a andar de skate.
Entre esses comentários rolou até um convite para o X Games, como foi isso?
Através do Youtube, o Daniel Gale, que é de uma organização de esportistas radicais com deficiência e também organizador do X Games, viu meu vídeo e me mandou uma mensagem, através do Porva, me convidando para os jogos.
Falei que não tinha condições financeiras para ir e perguntei se não tinha como ele me ajudar. Estamos conversando e estou no aguardo de novidades.
Antes mesmo de você subir pela primeira vez no skate, o Og de Souza já era sua inspiração. Atualmente, você continua se espelhando nele? E em mais alguém?
Me inspiro muito no Og, pelo fato de nós dois andarmos sentados. Há mais skatistas em situações parecidas com a nossa, mas são pessoas que usam o skate mais como locomoção e diversão. Não disputam campeonato e não levam tão a sério como eu e o Og. Conheci ele pessoalmente em 2004 durante uma etapa do campeonato profissional aqui em Curitiba. Ele é o grande responsável por eu estar aqui hoje.
E hoje em dia, você é inspiração para muita gente!
Também, muita gente fica desanimada com os problemas da vida, do dia-a-dia e quando me vêm pensam, NOSSA!
Como é o seu processo para aprender as manobras? Você estuda os movimentos?
Na verdade eu vejo os skatistas andarem e observo os movimentos, mas para mim é diferente. O Og, por exemplo, ele “chuta” as manobras com a mão, da mesma forma como se fosse com o pé. Já eu não, eu puxo o skate. As manobras flipadas para mim são mais rápidas pois tenho que pegar, girar e já subir no obstáculo.
Sem desmerecer seus grandes incentivadores, como o Pingo que lhe deu seu primeiro skate. O Porva foi o cara que acreditou muito em você, no seu skate, na sua força de vontade.
Na época que o Porva estava pensando em lançar a Nata, acho que em 2004, ele me viu andando na pista da Drop Dead e gostou do meu rolê.
Ele me chamou de canto, falou que estava montando uma marca e me convidou para fazer parte do projeto. Aceitei o convite na hora. Ele foi e é meu primeiro patrocinador.
E para você, o ítalo é exemplo de…
Ah, exemplo de superação pelo fato de perder as pernas e não desistir de viver. Não deixei isso me abalar, ergui a cabeça e enfrentei os problemas de frente. Espero que eu sirva de exemplo para todo mundo, que não devemos desanimar nunca.
Quer agradecer alguém?
Quero agradecer à Deus, minha família que está comigo em todas as horas. Agradeço ao Porva que está me ajudando até hoje e a toda família Nata.
Sem palavras à todas as pessoas que me ajudaram e me ajudam nessa caminhada.
- Palavra de amigo e patrocinador
Quando comentei com o Ricardo Porva sobre essa matéria, ele me enviou um belo depoimento sobre o Ítalo, o qual publico na íntegra logo abaixo e na sequência a parte do ítalo no vídeo “Vamo Andá?”
“A primeira vez que eu vi o Ítalo em Curitiba, além, é lógico, de ficar muito surpreso, vi humildade e senti uma energia muito boa nele. Depois disso, nos encontrávamos direto na pista da Drop e com o tempo tive a idéia de começar a filmá-lo.
Foram justamente as primeiras imagens da parte dele , na mini ramp do Jardim das Américas e como naquela época eu estava começando a NATA, nada mais justo do que incentivá-lo da maneira como eu podia, tanto que nas imagens do início da sua parte, ele está usando uma das primeiras camisetas que a gente fez.
Mas o Ítalo sempre foi um moleque muito engraçado e extrovertido e isso facilitou muito as filmagens, as manobras foram saindo naturalmente. Aprendendo as manobras novas na pista e querendo executá-las na rua a todo instante. Na verdade, a maioria das imagens do Italo foi fimada pelo Bruno Kbelo, outro skatista da família, que teve total influência em sua vida , sempre o incentivando e dando muita pilha.
Infelizmente aqui no Brasil os grandes empresários ainda estão de olhos vedados, ignorando seu talento divino e jogando fora uma oportunidade de ouro , que seria ter o logo de sua marca estampada em seu peito. Me sinto orgulhoso por isso, mas ao mesmo tempo triste em pensar que não tenho estrutura suficiente para dar o que ele realmente mereça “por enquanto”.
Mas acredito que num futuro próximo ele estará nos EUA dando o que falar, se ele quiser é óbvio, mas acho que ele quer sim e me disse que se ele for mesmo, aí que vai larga os braços de verdade..rssss
No mais é isso, que ele continue sendo sempre essa pessoa alegre ,dedicada e perseverante que ele é , e que Deus continue iluminando o seu caminho cada vez mais.
Sou muito feliz e muito grato por fazer parte de tudo isso, Obrigado irmão!!!”
Fonte:. ESPN
Ítalo Romano, exemplo de Amor e Superação